O Dia Mundial da Prematuridade nos lembra o quão frágil é a vida e o quanto a medicina avançou quando o assunto é salvar a vida de bebês que nascem muito antes do tempo, os chamados prematuros. Estima-se que mais de 80% das crianças conseguem sobreviver, mesmo quando a prematuridade é extrema.
Entretanto, os prematuros enfrentam alguns desafios ao longo da vida, que vão muito além de ganhar peso, respirar por conta própria, regular a temperatura corporal e aprender a mamar.
Segundo a neuropediatra, Dr. Karina Weinmann, uma parcela destas crianças, entre 25 a 40%, poderão apresentar algumas condições decorrentes da imaturidade orgânica, no que diz respeito a problemas de comportamento e transtornos de aprendizagem.
“Essas anormalidades podem aparecer mais tardiamente, na fase pré-escolar e escolar. Por isso, o seguimento com um neuropediatra deve ser regular e não apenas nos primeiros anos de vida. O neurologista infantil é capaz de identificar precocemente condições que afetam o sistema nervoso central. Com isso, há possibilidade de uma intervenção precoce para aproveitar a neuroplasticidade -capacidade do cérebro de fazer novas conexões cerebrais- que é intensa nos dois primeiros anos de vida”, diz Dra. Karina.
Desenvolvimento do cérebro em prematuros
Uma das principais preocupações com os prematuros é justamente o desenvolvimento neurológico. Segundo a médica, cada fase do desenvolvimento e crescimento cerebral tem seu tempo e ocorre sempre em concomitância a outros processos durante a gestação. O parto prematuro interrompe a evolução normal desses eventos.
“O cérebro de um bebê que nasce antes do tempo é mais vulnerável a apresentar anormalidades anatômicas, muitas vezes imperceptíveis em exames de imagem. Essas anormalidades podem interferir nas capacidades funcionais, cognitivas e comportamentais, levando à déficits que podem persistir na adolescência e na vida adulta, como repercussões sociais e educacionais importantes”, comenta Dra. Karina.
Fase pré-escolar demanda mais atenção
A entrada na escola vai exigir um novo olhar sobre o prematuro. Pesquisas já mostraram que é comum encontrar em crianças que nasceram em partos prematuros problemas de comportamento, transtornos de aprendizagem, assim como atrasos motor e de linguagem. Quando há atraso na aquisição da linguagem e quando isso não é tratado, a criança pode ter dificuldades para aprender.
Há ainda alguns transtornos de aprendizagem que parecem ser mais prevalentes nos prematuros, como, por exemplo, dislexia e discalculia. Estudos também já mostraram que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é mais prevalente em crianças que nasceram prematuras do que em crianças que nasceram a termo, ou seja, no tempo correto.
Cada criança é única
O desenvolvimento infantil é diferente em cada criança, seja ela prematura ou não. Nem todos os prematuros irão ter problemas de comportamento ou dificuldades escolares. Mas, como o nascimento antes do tempo afeta a maturidade do sistema nervoso central, o ideal é fazer um acompanhamento regular com um neuropediatra. Quanto antes for feita a intervenção, melhor será o prognóstico. “O importante é entender que todas as crianças nascem com seu potencial. Por isso, pais, educadores e profissionais da saúde podem e devem apoiar a criança para que ela possa se desenvolver plenamente e vivenciar de forma positiva seus anos escolares”, conclui Dra. Karina.